A PRIMAVERA NA MÚSICA CLÁSSICA
A PRIMAVERA NA MÚSICA CLÁSSICA
3 ÁLBUNS PARA OUVIR O MELHOR DA PRIMAVERA EM MÚSICA:
A Primavera, na flauta
Vivaldi, As Quatro Estações. Gravação de 1977 liderada por James Galway, flautista irlandês de sonoridade cristalina, que aqui assume também a regência. Ele foi primeiro-flautista da Filarmônica de Berlim entre 1969 e 1975, sob regência de Karajan, antes de deixar o cargo para se dedicar à carreira solo. Quando gravou As Quatro Estações em 1977, ele já havia deixado a orquestra.
Galway atua como flautista e regente nesta leitura, acompanhado pelos Zagrebački solisti (Solistas de Zagreb), cuja sonoridade camerística e fluidez de conjunto favorece o equilíbrio com o instrumento solo.
Na adaptação para flauta, a Primavera se destaca, pois a flauta empresta um sopro natural à textura barroca originalmente pensada para violino.
Esse projeto tem suas raízes na história: o filósofo e flautista Jean-Jacques Rousseau, em 1775, já havia feito um arranjo da Primavera para flauta, que foi moda na corte de Versalhes, sob Luís XVI e Maria Antonieta. Galway, ainda que não siga literalmente esse arranjo, nos conecta a essa tradição.
Uma versão curiosa, uma leitura que abre novas perspectivas para uma obra tão familiar, especialmente pela reinvenção tímbrica que a flauta propicia.
A Primavera, violino e piano
Beethoven: Sonata “Primavera”. Gravação de 1970. Yehudi Menuhin é o violinista solista, acompanhado por Wilhelm Kempff ao piano, uma parceria que rendeu uma das versõs mais celebradas dessa Sonata de Beethoven.
A leitura irradia otimismo, leveza e fluência. O violinista toca com fraseado fluido e delicado, projeta os motivos com clareza, enquanto o pianista oferece apoio claro, sem sobrecarregar.
Alguns relatos afirmam que Menuhin e Kempff muitas vezes “tocavam sem ensaio” e aceitavam o primeiro take de cada movimento, sugerindo uma perfeita sintonia entre eles. Isso aparece na performance: notamos um impulso musical vivo.
Algumas versões do álbum trazem também a Sonata “Kreutzer” como complemento, formando um contraste expressivo: enquanto “Primavera” é luminosidade e otimismo, “Kreutzer” mergulha na tensão dramática e virtuosismo. Em termos de programação, essa combinação funciona bem, embora a intensidade da “Kreutzer” pode soar menos “explosiva” do que em outras versões mais “virtuosas”.
A Primavera, uma Sinfonia
Schumann: Sinfonia n. 1 “Primavera” em gravação de 1989, com Neville Marriner à frente da Academy of St. Martin-in-the-Fields. Marriner é conhecido por sua clareza estilística e por conduzir a Academy com disciplina camerística, o que dá à “Primavera” de Schumann um frescor luminoso. O primeiro movimento, inspirado pelo verso de Böttger — “A primavera faz irromper a vida” — aparece com ritmo pulsante e leveza de texturas, mérito tanto da batuta quanto da transparência sonora típica da Academy. Marriner privilegia linhas claras, sem pesar demais, revelando detalhes contrapontísticos que muitas vezes ficam obscurecidos em leituras mais densas de tradição germânica.
A Academy of St. Martin-in-the-Fields, embora não seja uma orquestra romântica “de massa sonora”, contribui com coesão e agilidade. Esse caráter quase camerístico combina bem com a intenção original de Schumann: transmitir entusiasmo juvenil e energia vital. O resultado respira leveza e espontaneidade.
O disco traz também a Sinfonia n. 3 “Renana”, cuja grandiosidade contrasta com o otimismo juvenil da “Primavera”. Marriner não tenta competir com o peso das grandes filarmônicas alemãs, mas oferece uma versão elegante, bem articulada, que valoriza sobretudo a clareza estrutural da partitura.
Rafael Fonseca
GUIA DOS CLÁSSICOS
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