A INFLUÊNCIA CIGANA - UMA PLAYLIST AINDA MAIS COMPLETA
Haydn é um dos raros exemplos de inspiração cigana pré-1800 que temos. O finale de seu Trio n. 39 reproduz, como vimos na aula, as danças verbunkos. A gravação que escolhi é a do insuperável Trio Beaux Arts. Na extensa pesquisa que fiz, esbarrei com uma gravação de uma pequena Suíte de 8 Danças de Haydn intituladas "Zingarese", mas a probabilidade maior é que isso seja uma publicação espúria, feita sob o nome do grande compositor para vender partituras. Ainda assim, incluí aqui, pois se trata do espírito cigano segundo as lentes do mercado de partituras, para os consumidores de música que tocavam essas obras em pequenos cinjuntos domésticos, em suas festas e saraus, no século 19.
Um caso único, em Beethoven, de uma possível inspiração cigana seria o Rondó opus 129, que o público conhece com o sugestivo título de "Raiva pelo centavo perdido". Esse título é uma adição feita com outra letra (não a de Beethoven) no manuscrito. Mas o que Beethoven efetivamente escreveu ali foi Rondó "alla ingharese", uma palavra que não existe em língua nenhuma mas cuja sonoridade remete a "ongarese", ou seja: o estilo húngaro. Com ela, presto minhas homenagens ao recém-falecido Alfred Brendel, intérprete genial de Beethoven.
Como sabemos, o dito estilo húngaro se confunde — em muitos casos — com a inspiração cigana. Schubert esteve nas terras da família Esterházy, onde décadas antes serviu Haydn. Dessa experiência surgiu a Melodia Húngara, e de novo temos Brendel na lista.
Os compositores do início do Romantismo foram muito parcimoniosos com a absorção dessa influência. Schumann tem uma Canção para várias vozes intitulada Zigeunerleben (Vida Cigana) que, como curiosidade, a incluí aqui. Um exemplo delicioso de incorporação desse legado.
Em Johannes Brahms, encontramos várias passagens ciganas. Comecemos pelas Danças Húngaras, citadas nas aulas. São 21 delas, mas vamos ficar com as 2 mais famosas. As de número 1 e 5. Vocês as terão em duas versões: primeiro a original, para piano a 4 mãos, com as irmãs Labèque; depois a versão orquestral com Claudio Abbado à frente da Filarmônica de Viena. Depois, o célebre finale do Concerto para violino, uma dança cigana inequívoca, com David Oistrakh e George Szell.
Continuando com Brahms, o Rondó cigano, finale de seu Primeiro Quarteto com piano, aqui no registro que explora com maior ênfase o caráter apaixonadamente cigano da música: Marc-André Hamelin ao piano, com o Leopold String Trio. Alta voltagem, energia, para se deixar levar... Brahms ainda tem, e precisamos ouvir aqui, as Canções Ciganas para quarteto vocal.
O olhar estilizado e pouco comprometido de Johann Strauss II, o rei das valsas, produziu (como vimos na aula) a opereta O Barão Cigano, cuja Abertura vocês a tem aqui com o grande Bruno Walter. Já que estamos diante deste genial compositor de música ligeira, que atuou em um tempo histórico no qual era moda incorporar esses temas (ainda que totalmente distorcidos), ouçamos a Polka Húngara mais empolgante do repertório, com Karajan; e as Csárdás que aparecem na opereta O Morcego, com Jos van Immerseel.
Vamos ao século 20: Bartók e as Danças Romenas, que vocês ouviram a versão orquestral na aula, mas aqui coloquei a versão para piano com o inspiradíssimo Zoltán Kocsis. A Cigana, de Ravel, com Anne-Sophie Mutter e Levine. Acrescentei as Danças de Galánta, nas quais Zoltán Kodály faz referência às bandas ciganas que ele ouviu nesta cidadezinha, Galánta, à beira do Danúbio na região da atual Eslováquia; o registro não poderia ser outro que não Antal Doráti.
Para finalizar, os trechos de ópera. De Verdi, d'O Trovador, o Coro dos ciganos (ou Coro dos ferreiros) da célebre gravação de Giulini. Da Carmen de Bizet, a Canção boêmia (ou Canção cigana), com quem mais poderia ser? Ela, a única: Callas!
OUTROS ASSUNTOS: