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A pulsação grave e a melodia enternecedora do segundo movimento da Sétima Sinfonia de Beethoven criam um clima de introspecção, perfeito para expressar a saudade e os anseios dos corações apaixonados. Wilhelm Furtwängler atinge uma intensidade trágica, com a urgência de um lamento; e transcende, revelando as camadas mais íntimas da obra. A Filarmônica de Viena oferece a tensão emocional perfeita.
O crescendo erótico que Wagner gera no Prelúdio de sua ópera Tristão e Isolda é extasiante: uma atmosfera de desejo não resolvido. Leonard Bernstein, na única vez que gravou a obra completa, com a Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera, enfatizou a vertigem luxuriante dessa música. Temos a angústia do desejo em toda a sua potência. A música respira com emoção, deixando o ouvinte em estado de contemplação apaixonada.
É interessante perceber que Wagner usou uma das Canções sobre os poemas de Mathilde Wesendonck como estudo para Tristão e Isolda, que estava em processo de composição. Jessye Norman domina a canção com poder hipnótico, sublimando o erotismo contemplativo. Sua voz é suntuosa e tem capacidade de transmitir a essência emocional da música, com melancolia e beleza. Colin Davis, à frente da Orquestra Sinfônica de Londres, proporciona um acompanhamento sensível e equilibrado, permitindo que a voz brilhe.
A doçura pastoral do Idílio de Siegfried — outra vez, Wagner — exala ternura doméstica, lembranças e afetos íntimos. A música flui com suavidade e convida aos sentimentos mais profundos. Herbert von Karajan cria um som aveludado, tão característico da Filarmônica de Berlim durante sua gestão. Uma interpretação que busca a perfeição sonora, valorizando a beleza melódica. Uma celebração da profundidade dos laços afetivos.
A melancolia de Mal du Pays, dos Anos de Peregrinação de Liszt, a faz uma espécia de canção do exílio. Nostalgia, as lembranças da terra natal, ou do lugar que se ama. A atmosfera de introspecção e saudade, os momentos de reflexão sobre o amor e a distância, uma música que fala à alma, com sentimentos que por vezes podem ser dolorosos. Alfred Brendel evita sentimentalismos, e transforma simplicidade em profundidade. Um pianista, tido como cerebral, revela uma capacidade notável de extrair emoção sem recorrer a excessos. Ele explora as nuances da partitura com clareza e precisão, com sinceridade direta.
O Andante cantabile do Quarteto com piano de Schumann desenha melodias de beleza indescritível. O diálogo entre o piano e os instrumebtos de cordas evoca uma conversa confidencial: seu lirismo, fluidez e expressividade parecem sussurrar segredos. Ou a delicadeza das palavras de afeto. O Trio Beaux Arts Trio, com a adesão do violista Samuel Rhodes, prioriza a igualdade das vozes, com um cuidado de realçar a beleza da linha melódica, especialmente a do violoncelo, que é um dos pontos altos dessa obra.
No Concerto para piano n. 1 de Brahms, o solo de piano do segundo movimento é meditativo, uma devoção silenciosa e reverente à pessoa amada. Claudio Arrau empresta uma gravidade quase sacra em sua leitura fascinante desse trecho. O maestro Carlo Maria Giulini, ainda um jovem em ascenção na época do registro, já demonstrava sua qualidade de regente denso e de som poderoso e aveludado, reforçando o caráter contemplativo e litúrgico proposto pelo solista.
A desolação das cordas da Filarmônica de Leningrado na introdução do movimento lento-final da Sexta Sinfonia de Tchaikovsky é de arrepiar. O grande Mravinsky conduz com crueza, intensificando o desespero contido na partitura. É uma leitura profundamente emocional, de melancolia sombria, beleza desoladora, mas... sem cair no sentimentalismo. A forma como Mravinsky constrói a tensão e a liberação emocional no movimento é magistral, criando uma experiência avassaladora e catártica.
O Adagietto da Quinta Sinfonia de Gustav Mahler é o trecho mais conhecxido de sua obra, o mais querido do grande público. Com justiça, é uma melodia cativante e enternecedora, do início ao fim. Sem os sobressaltos que assolam a quase totalidade dos movimenyos de suas Sinfonias. Uma declaração de amor, calma e serena. As energia dos músicos jovens da Orquestra Simón Bolívar produzem um calor vibrante, de pulsação orgânica. Gustavo Dudamel os conduz com energia e paixão, adotando um andamento mais lento, o que reforça o caráter sonhador deste trecho. Profundamente comovente, com as emoções sendo transmitidas de forma pura e delicada.