PARA OUVIR NA PLAYLIST
Serão 6 as opções para vocês ouvirem a Quinta de Tchaikovsky:
◉ OTTO KLEMPERER, Orquestra Philharmonia (de Londres), 1963 - Quando eu me deparei com esta gravação, meu primeiro pensamento foi: "vai ser uma leitura potente, porém fria, sem a força visceral da música russa". Eu estava totalmente equivocado. Desde então, ela se tornou a minha gravação favorita da obra. Mas ela não abre essa lista por ser do meu gosto pessoal. Vocês sabem que eu sempre coloco em primeiro lugar aqui, aquela que eu considero a gravação referencial, ou seja: aquela que mostra, desvenda, coloca tudo nos devidos lugares. Quase uma leitura didática. E com equilíbrio e integridade. E a gravação de Klemperer é isso tudo. Uma Quinta de Tchaikovsky maravilhosa e, certamente, uma das melhores de todos os tempos. Um destaque fica por conta da participação dos instrumentos de sopro, sempre lindamente colocados, sobretudo no movimento lento.
◉ YEVGENY MRAVINSKY, Orquestra Filarmônica de Leningrado, 1960 - Aqui temos autenticidade: é o som russo, com todas as suas nuances de emoção e drama. A energia da performance — captada em um concerto ao vivo em Viena, durante uma turnê — é inacreditável. Para muitos é a gravação definitiva da obra, mas eu a colocaria no escaninho dos registros feitos para quem quer se sentir eletrizado pela música. Esta gravação tournou-se modelar para os outros regentes, desde que surgiu. Um detalhe a se notar é o controle do tempo, meticulosamente burilado por Mravinsky, com acelerações e desacelerações certeiras... e obedecidas com precisão espantosa pelos músicos. Existem vários outros registros feitos por Mravinsky com a mesma orquestra, uns inclusive da década de 1980, porém uma das vantagens deste é o de ter sido feito fora da União Soviética, com a tecnologia dos alemães da Deutsche Grammophon. Excitação pura.
◉ SERGIU CELIBIDACHE, Orquestra Filarmônica de Munique, 1991 - A mesma orquestra e o mesmo maestro do vídeo utilizado na aula, mas em registro posterior. O vídeo era de 1983 e essa gravação é de 1991. Aqui, perde-se um pouco do impacto, com um Celibidache ainda mais contemplativo e expansivo. Mas a beleza do som produzido é notável. A potência dos clímaxes do vídeo de 1983 aqui é convertida em uma visão mais meditativa da música. Há grandiosidade, mas ela é mais interiorizada e menos explosiva. A questão de ralentar o andamento é sempre polêmica: em tempos mais espaçosos você percebe a riqueza de detalhes do tecido sinfônico de maneira mais evidente, mas pode perder o fluxo das melodias. Esta gravação aqui é a mais lenta já registrada, porém, ainda assim, Celibidache consegue segurar o fluxo melódico; mesmo em seus tempos super arrasatados. É a gravação para quem gosta de curtir a beleza do som dos instrumentos e perceber os seus detalhes.
◉ LEONARD BERNSTEIN, Orquestra Filarmônica de Nova York, 1988 - Polêmica... polêmica! Aqui está um registro que não é para todos os gostos. Ame ou odeie, não haverá meio-termo. Bernstein já tinha um registro com a mesmíssima Filarmônica de Nova York, feito em 1960, no qual essa obra transcorre enérgica e super espontânea. Mas aqui ele dá vazão a suas fantasias como intérprete e — talvez — veja na obra suas próprias emoções e conflitos com relação a aceitação da sexualidade, coisa que permeia a biografia de ambos (Tchaikovsky e Bernstein), embora com um século de distância. O resultado é idiossincrazia pura: contrastes intensos de andamentro dentro do primeiro movimento, com melancolia excessiva na introdução e violência no trecho mais rápido. O movimento lento é excessivamente derramado, tornado-se um lamento. A Valsa é tristonha e chorosa. O finale é exagerado, quase histérico. Essa é para quem busca fortes emoções e tintas carregadas.
◉ IGOR MARKEVITCH, Orquestra Sinfônica de Londres, 1966 - Se existe excesso em Bernstein, com Igor Markevitch temos o oposto. Zero sentimentalismo. Markevitch é super objetivo, muito direto, e conduz Tchaikovsky com mão firme. Até mesmo as possíveis flutuações de tempo são minimizadas, com o fluxo melódico transcorrendo contínuo e muito potente. Mas isso não faz dessa gravação um registro desprovido de paixão. Ao contrário: ela é emotiva, mas com rigor. É atlética, firme, poderosa. Por muito tempo foi, na discografia, a única a rivalizar com o registro de Mravinsky, o maestro-modelo para Tchaikovsky. Porém, entre Mravinsky e Markevitch existe essa diferença: a Quinta de Markevich é mais polida, exala uma elegância mais controlada.
◉ MANFRED HONECK, Orquestra Sinfônica de Pittsburgh, 2022 - Esta é a Quinta de Tchaikovsky dos novos tempos. Em comparação com as interpretações discutidas acima, a versão de Honeck se destaca por sua fluidez emocional. Enquanto Mravinsky oferece precisão cirúrgica e intensidade febril, e Markevitch apresenta rigor estrutural e objetividade clássica, Honeck combina elementos de ambos com uma paleta dinâmica mais ampla. Diferente da abordagem arquitetônica e contemplativa de Celibidache, Honeck é mais rápido e cria um arco dramático mais imediato e teatral. Com a mesma nobreza de Klemperer, porém com maior impetuosidade, e sem os excessos de Bernstein. Me chama a atenção a sensação de volatilidade da interpretação, como se a músca estivesse à beira do precipício, com picos mais altos e abismos mais profundos. A sonoridade da orquestra é belíssima com intensidade e flexibilidade expressiva.
NO SPOTIFY
NO YOUTUBE-MUSIC